Um dilema nacional: petróleo ou proteção? 32855

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Metade dos brasileiros (49,7%) é contra a exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas, enquanto apenas 20,8% apoiam a atividade

  • Por Patrícia Costa
  • 20/05/2025 09h35
EFE/MARCOS RODRIGUES petroleo nordeste Os atingidos pelo maior derramamento de óleo cru no litoral brasileiro, ocorrido em 2019, denunciaram na Câmara dos Deputados atrasos em indenizações, vigilância sanitária, restauração do ecossistema marinho e punição aos responsáveis, cinco anos após o desastre

O Ibama autorizou a Petrobras a avançar para a etapa de simulações de emergência, na bacia da Foz do Amazonas. A medida faz parte do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada, que prevê a criação de um centro de reabilitação de animais em caso de vazamentos de óleo — condição técnica necessária para a estatal seguir no processo de licenciamento ambiental. Apesar da autorização, o órgão ambiental ressaltou que a licença para perfuração ainda não foi concedida. Antes disso, a empresa deverá ar pela Avaliação Pré-Operacional (APO), que incluirá simulações práticas e vistorias para avaliar a efetividade dos procedimentos de contenção e mitigação de impactos. A liberação reacendeu uma disputa que já dividiu ministérios, cientistas e ambientalistas. De um lado, o governo federal — com apoio do Ministério de Minas e Energia e da própria Petrobras — argumenta que a região é uma nova fronteira estratégica para a produção de petróleo no país, com potencial semelhante ao da Guiana, onde grandes reservas já são exploradas. A expectativa é de geração de empregos, royalties e investimentos bilionários, especialmente em áreas historicamente carentes da Região Norte. De outro lado, ambientalistas alertam que o risco é alto demais. A Foz do Amazonas é uma área de altíssima biodiversidade, com ecossistemas únicos, pouco estudados e espécies ameaçadas. Qualquer vazamento pode ser desastroso.

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Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), foi categórico: “Estamos vivendo o absurdo da burocracia que viabiliza insustentabilidade. A aprovação de um hospital para animais atingidos pela exploração de petróleo permitirá pesquisa para perfuração e extração em área de alta vulnerabilidade ambiental.” Para Bocuhy, o centro de atendimento à fauna é uma medida paliativa, incapaz de conter os verdadeiros danos de um possível acidente ambiental. “Se o desastre ocorrer, como no Golfo do México ou no Alasca, o equipamento para socorrer uma ínfima parte da fauna já estará pronto. Mas isso não evita a tragédia. Basta lembrar o vazamento que atingiu o litoral do Nordeste para ver como esse tipo de resposta é frágil.” A Foz do Amazonas, ao mesmo tempo em que atrai os olhos do setor energético, desafia o país a fazer escolhas estruturais. A pressa por explorar petróleo pode comprometer um ecossistema que leva milhares de anos para se formar — e segundos para ser destruído.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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